ALDEIA DE GRALHAS!... APROVEITE, E CONHEÇA A HISTÓRIA, USOS, COSTUMES E TRADIÇÕES DESTA ALDEIA DE BARROSO...

- LOCALIZAÇÃO E ESTRUTURA SOCIAL DA ALDEIA


Terra de montanha, muito gado caprino e ovino e de gente dura, a aldeia de GRALHAS, está situada no norte de Portugal, na base sul da Serra do Larouco e ocupa uma área calculada em cerca de 1082 hectares. Dista 9 Kms da vila de Montalegre, sede do concelho, 5 Kms da fronteira com a Galiza e 25 Kms da cidade de Chaves.O seu povoamento é concentrado.
A aldeia encontra-se rodeada de nabais, hortas e lameiros de rega. Neste perimetro, é propriedade exclusivamente privada. Depois segue-se-lhe todo um conjunto de terrenos, também privados, mas misturados com outros de dominio público. Esses terrenos, são chamados de duas folhas (a de baixo e a de cima), uma de batata, outra de centeio, com cultivo alternado.
Antes da intensificação da cultura da batata, uma das folhas, ficava em grande parte, de poulo (pousio). Quase todos os terrenos, envolventes deste segundo perimetro, são de pastoreio colectivo até às sementeiras e posteriores colheitas. Os lameiros são propriedade privada, excepto as «lamas do povo» ou do «boi», como também são conhecidas e que outrora se destinaram à pastagem dos bois do povo.
O monte (baldios) é de pastoreio livre, quer para gado de particulares, quer para os rebanhos comunitários. A povoação, apresenta um modelo consistente, depurado ao longo dos séculos, através de uma economia de subsistência, onde entroncam admiravelmente o privado e o colectivo. Cultiva-se pouco de cada coisa e hoje praticamente, em função das necessidades do agregado familiar.  A terra, não é apenas a propriedade, é mais a extensão vital da corrente sanguínea. Nos dias que correm, a vida da aldeia não é o quadro de felicidade, que ocorre e pode ser apreciado em certas épocas. Ao lado da altura, que alguns chegam a ostentar, moram ainda muitas dificuldades, quantas vezes encapotadas, designadamente, durante o rigoroso inverno, quando o trabalho escasseia. A partir dos anos sessenta, muitos jovens descontentes e ambiciosos, largaram tudo, e meteram os pés a caminho, deslocando-se para as grandes cidades do litoral e mais tarde em muito maior número, para outros países da Europa, designadamente para França. Quatro décadas depois, muitos regressaram e continuaram com a mesma vida. Envelhecidos pelo tempo e pela vida, atravessam ainda hoje a aldeia, atrás das suas vacas, revivendo o passado.
A estrutura social, o papel da propriedade da terra, as casas, as ruas, as fachadas, o modo de vida, o sistema de entreajuda, a noção de tempo, os ritmos da vida, os mitos e os ritos, tudo parece pertencer já a um paraíso perdido. 
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra, Minha Gente)

- CLIMA

Costuma dizer-se por estas bandas, que os respectivos habitante se têm de confrontar, com "nove meses de inverno e três de inferno", o que em termos práticos quer dizer, que são nove meses de intenso frio sem margem para o exercicio de uma actividade normal e três meses de intensa labuta. 
Assim, quanto ao clima, poder-se-à dizer, que a aldeia de Gralhas, se situa na zona climática do nordeste ou terra fria.
É uma aldeia de temperaturas extremas, que vão de vários graus negativos no Inverno, com muita chuva e alguma neve, a mais de 30 graus positivos no Verão, devido à sua localização continental.
Os ventos, irregulares e variáveis, conforme a época do ano, constituem elemento muito influente no clima.
Tem índices pluviométricos elevados com uma média de 100 dias de chuva por anoA altitude oscila entre os 700 e os 1.525 metros, no topo da Serra do Larouco.
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra, Minha Gente")

– GRALHAS, MINHA TERRA, MINHA GENTE...

Historiar com precisão, aquilo que se pretende é muito complicado, e a história de Gralhas não foge à regra. 
Existem todavia, documentos que falam de diversas regiões de Barroso, designadamente desde a época da ocupação romana. Em meados do século VI, durante o domínio dos Suevos, um dos concilios de Lugo, fala de Salto, uma freguesia do concelho de Montalegre, ao qual Gralhas pertence. Seis séculos mais tarde, um manuscrito de 1145, dá noticia da existência do Arcediagado de Barroso. Por volta de 1147, um documento existente no Arquivo Provincial de Orense (Galiza), fala da fundação do Mosteiro de Santa Maria das Júnias, próximo de Pitões, outra aldeia, que integra o mesmo municipio.Em 1208, uma Bula do Papa Inocêncio III, refere-se a Vilar de Perdizes e ao Couto de Dornelas. Pela mesma data, Tourém recebeu foral do rei D. Sancho I. 


De 1248, existem dois documentos, referentes ao Mosteiro de Pitões e ao Couto de Vilaça. As Inquirições de 1258, falam de novo em Salto. A partir do século XIII, a documentação é mais abundante.Mas sobre Gralhas, para além de alguma informação dispersa e na maioria dos casos, proveniente da Galiza (Aula Galicia), o primeiro diploma legal que se conhece, é o foral concedido, pelo rei D. Dinis, em 20-09-1310, ano de epidemias e muita fome na região, através do qual se ordenava a partilha das terras, o seu cultivo, o pagamento do dízimo a Deus e a proibição de atentar na parte ou no todo contra os usos e costumes da povoação.
Assim, com base na documentação disponível, em achados diversos, nas tradições, nos costumes locais e nos testemunhos dos mais antigos, procurarei na medida do possível, responder à pergunta: Como nasceu Gralhas!...
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra, Minha Gente")

– ENQUADRAMENTO HISTÓRICO-NATURAL

Não se conhece de fonte segura, a origem do nome que fez jus à terra. Não se conhecem igualmente, registos que retratem de forma fidedigna a sua origem. O que se sabe isso sim, é que o termo GRALHAS, deriva do latim -gracula-, ave conirrostra da familia dos corvos, que abundou na zona onde hoje se situa a aldeia.
Segundo relatos de alguns estudiosos, as comunidades que viviam próximo do aglomerado, que é hoje, toda a àrea circundante da freguesia de GRALHAS, perdem-se na bruma dos tempos. Essas comunidades, parecem ter habitado, desde os longínquos tempos da pré-história, em zonas, como Soutelo (ou «Crasto» como ainda hoje é conhecido) e Ciada, pouco se sabendo dos seus primitivos habitantes, da sua cultura, dos seus hábitos, das suas actividades de caçadores e pastores, designadamente durante os periodos leptolítico e mesolítico. 
Há cerca de 3 000 anos, a cultura castreja, representada supostamente pelos Equésios, teve nessas regiões, larga difusão e grande prosperidade, supondo-se que como consequência de uma epidemia que terá grassado nos ditos CASTROS DE SOUTELO e da CIADA, o primeiro situado a nascente do lameiro do Artur Roscas e a poente do Rio das Forcadas, que ainda hoje apresenta vestigios de uma muralha de terra e pedra miúda, e de um fosso do lado nascente do mesmo rio, e o segundo na encosta a caminho de Solveira, pela estrada velha, numa zona próxima do actual campo da bola, as respectivas populações, se tenham deslocado para zonas, que apelidaram de Cima de Villa, muito próxima da actual Calhelha do Lameiro e Bárrio, algures da Santa, as quais muito mais tarde e por influência da civilização romana, se viriam a unificar e dar origem à actual aldeia de GRALHAS.
Por aqui passaram e deixaram igualmente marcas, diversas civilizações, entre as quais, a Ibero-Céltica - cujos vestigios nos são transmitidos, pelas suas preocupações com o que haverá para além da morte, e se traduziram na edificação de monumentos funerários, existentes na região - e a Romana, sendo aqui de salientar, a via romana Braga-Chaves, que há cerca de 2 000 anos, passava pela Ciada/Caladuno, o que prova inequivocamente, que os romanos, chegaram a esta zona, passaram e deixaram rasto.  
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra, Minha Gente")

– VIDA E COSTUMES DOS CASTRENSES

Como já foi dito, Gralhas, sempre foi uma zona de temperaturas extremas, que se traduzem em muita chuva e neve no inverno e elevado calor no verão.Sabe-se hoje, que na época dos Castros e no periodo que se lhe seguiu, os habitantes das zonas, que hoje envolvem a freguesia, vestiam uma túnica de lã ou de linho, conforme a época de Verão ou Inverno, a qual descia do pescoço, até um pouco acima do joelho, ou ainda um saião curto, por alturas em que o calor apertava mais.
Da chuva e da neve, protegiam-se com uma capa negra de lã, algo semelhante ao sagum celtibérico - sendo provável e pacífico, que mais tarde lhe fosse adaptado um capuz, da qual resultou a ainda existente «capa» ou «capucha» de borel, que todos nós conhecemos – e com vestimentas, feitas com jungos, a que mais tarde se veio dar o nome de «crossas» ou «crôssos».
Em termos de alimentação e antes do centeio ter sido aqui introduzido pelos Celtas, os nossos antepassados consumiam, pão de landras (bolotas) dos carvalhos, que eram tostadas, moídas e posteriormente cozidas através de processos desconhecidos, leite, carne proveniente da caça e ainda a conseguida, através do abate de gado ovino ou caprino que possuíam, milho e peixe. As populações agrupavam-se em comunidades ligadas por laços sanguíneos, ou em tribos, quando as desavenças assim o determinavam.Viviam em regime comunitário, perfeitamente harmonizado e em perfeita sintonia com os direitos e obrigações, que a própria comunidade impunha a si mesma e que o respectivo chefe geria.
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra, Minha Gente")

– A PASSAGEM POR GRALHAS DOS ROMANOS...

Como é sabido, quando a conquista romana da Peninsula Ibérica se inicia, em 218 A.C., com o desembarque das tropas de Cneu Cipião em Ampúrias, na actual região de Barcelona, já a Peninsula era habitada por diversos povos. E naquele que viria a ser território português, a norte do Rio Douro e nas imediações da zona, onde hoje se situa a freguesia, encontravam-se os Calécios, que haviam resultado da fusão de alguns nomadas que por ali passaram e se viriam a fixar, com as populações locais. Deve dizer-se inclusivé, que aquele território – ao tempo parte integrante da Callaecia -, conjuntamente com a Asturia e a Cantabria, foi a última zona do actual território português, a ser conquistado por Roma, nas campanhas de 26 e 25 A.C., isto é, cerca de duzentos anos após o inicio da ocupação romana da Peninsula Ibérica.
A cultura Ibero-Céltica dos Castros, após cerca de um milénio de existência, cedia então lugar ao domínio romano. Todo o periodo que se seguiu, trouxe consigo, além das transformações politicas, administrativas e culturais, uma profunda modificação no regime de propriedade. De facto, com o deslocamento das populações castrejas, onde dominava a propriedade comunitária, para as terras mais férteis dos vales, ocorreu uma ocupação individualista do solo, bem típica aliás, da civilização romana, presumindo-se ser este o momento, que como consequência de tal, os aglomerados populacionais de Cimo de Villa e Bárrio, se tenham fundido, naquela que hoje é a Aldeia de Gralhas.
A língua, as letras e os costumes, foram outras das heranças que a civilização romana deixou por toda a região de barroso e consequentemente por Gralhas, aos quais se pode juntar, a actual estrutura paisagistica, assente numa economia de subsistência, designadamente no que diz respeito às culturas agricolas, em que o gado, é a principal fonte de riqueza da população residente.
Estes factos, tiveram como consequência, uma radical transformação na economia local, até então essencialmente pastoril, transformando-a numa economia predominantemente agrícola. A principal consequência desta transformação, resultou num progressivo enfraquecimento do regime comunitário, que até então vigorou, o qual apenas viria a ser restabelecido, a partir dos princípios do século V da nossa era, quando das invasões dos povos germanos, constituídos por Vândalos, Suevos e Alanos, no ano de 409.
Para além do que já foi referido, da cidade romana de Grou, que constitui um autêntico cartão de visita desta zona, e se situa, algures entre a actual aldeia de Gralhas e de Santo André, e da via romana de ligação entre Braga e Chaves, que saindo daquela cidade bracarense, passava por diversas povoações dos actuais concelhos de Vieira do Minho e Montalegre, designadamente, Codeçoso do Arco, Porto dos Carros, Lama do Carvalhal, Currais, Subila, Breia Gia a sul de Ladrugães, Friães, Pisões, Cruz do Leiranco, Penedones, Travassos da Chã, S. Vicente, Peireses, Codeçoso, CIADA (ao tempo conhecida por Caladuno e actualmente situada na zona envolvente de GRALHAS), Solveira, Soutelinho, Castelões, Seara Velha, Pastoria, Casas dos Montes, até atingir a cidade flaviense, pouco mais se conhece da herança deixada pelos romanos, por estas paragens.
Restam nas redondezas, alguns Marcos Miliários – os chamados monólitos cilindricos -, que assinalavam de mil em mil metros, as respectivas distâncias, indicando alguns deles, os nomes, a filiação, os cargos exercidos e os títulos honoríficos dos imperadores de Roma. Sabe-se, que a introdução dos marcos miliários, nas vias romanas,datam do ano de 183 antes da era Cristã. Que são do tempo de Caio Graco e que em zonas próximas de Codeçoso do Arco, Pisões, Antigo de Arcos e Cervos, foram encontrados alguns exemplares, constando num dos existentes nesta última freguesia a inscrição: «Tibério César, filho do Divo Augusto, neto do Divo Júlio, Augusto, Sumo Pontífice, 8 anos imperador, 5 anos cônsul, 34 anos do poder tribunício. A Braga, 59 000 passos», facto que prova de forma inequívoca e à distância de mais de 2 000 anos, a forte presença da civilização romana, nesta zona. Os ditos marcos, quase todos desapareceram. Alguns, como os acima referidos, foram levados para Braga onde se encontram, outros, foram destruídos pelo passar impiedoso do tempo, e outros ainda, foram até utilizados na construção de casas ou de muros de propriedades rurais, como é o caso de dois exemplares, do tempo do imperador César Augusto, já do ano 44 da era cristã, que «enfeitam» a parede do forno do povo de Sanguinhedo.
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra, Minha Gente")

- E DOS SUEVOS E VISIGODOS

A todas as acções levadas a efeito pela romanização, foi dada continuidade pelos cenóbios cristãos, que cimentaram a cultura romana, com a influência germânica que se lhe seguiu, de Suevos e Godos.
O reino Suevo, esteve implantado em toda a Galécia, durante 176 anos, isto é, no periodo compreendido entre 409 e 585, altura em que foi conquistado pelos visigodos. Acresce aqui referir, que as populações da região, passavam praticamente imunes a todas as transformações, relacionadas com problemas de identidade, a tal ponto que os próprios reis vencedores, se intitularam, Reis dos Visigodos e dos Suevos, até à conquista muçulmana, no sécul VIII, a que se sucedeu a reconquista cristã, que havia de conduzir, à criação do Reino de Portugal, no século XII.
É sob esta influência dos povos germanos na zona, e em particular no que aos Suevos diz respeito, que no século V se presume ter sido introduzido na região da Gallecia e por consequência também na zona que hoje é Gralhas, um tipo de arado muito mais possante que o utilizado pelos indígenas, algo semelhante até, ao utilizado pelos lavradores da terra, já nos séculos XIX e XX, e se iniciao gosto de montar nos «burricus», não de forma tão elegante como faziam os cavaleiros romanos, nos seus cavalos, mas de uma forma, muito mais adaptada, quer à rudeza dos montes e montanhas, quer às próprias possibilidades dos residentes.Desse «burricus», ficou o hábito, até há relativamente poucos anos atrás, das deslocações da nossa gente, por montes e vales, feiras e romarias e até no transporte de todo o tipo de cargas, que íam desde o simples «molho» do milho, até ao transporte de carvão, ou dos «odres» com vinho, que muita gente da terra, adquiria nas proximidades de Chaves.
Com a chegada dos Suevos e como já foi dito, radica-se de novo o comunitarismo na nossa terra. É que ao contrário dos romanos, exímios defensores da propriedade privada, os germanos valorizavam sobretudo a propriedade colectiva, donde resultou o sistema de vida comunitária, que ainda hoje mantém alguns dos seus traços característicos, na nossa comunidade.
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra, Minha Gente)

– OS MOUROS EM BARROSO

Os Mouros entraram na Península em 710. No ano seguinte, vencendo os cristãos na batalha de Guadalete, deram o golpe final, na monarquia visigótica.
A campanha de ocupação, durou cerca de 7 anos e a região de Barroso, presume-se ter caído em seu poder, por volta do ano de 716.
À semelhança do que aconteceu noutras localidades da região, os habitantes de Gralhas, sofreram o ódio e a perseguição mourisca। Uma vez submetidos aos invasores, julga-se terem vivido em relativa paz com eles, pese embora, tenham sido tratados quase como escravos. Todo o labor do seu trabalho revertia para o senhor da terra, a quem pagavam pesados tributos.
Qualquer dos naturais, estava impedido do exercício de chefia de grupo e o lucro era proibido. Desconhece-se, se poderiam praticar livremente a sua religião. O que se sabe isso sim, é que determinados lugares da aldeia, como «Fental», «Queirogal», «Espinheiral» e tantos outros semelhantes, se encontram ligados à passagem dos Mouros, por Gralhas.
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra, Minha Gente")

- A RECONQUISTA CRISTÃ

Durante a reconquista cristã da península, Gralhas, tal como toda a região de Barroso, manteve-se integrada na Galécia.
A Galécia, como já foi dito, fora uma provincia romana, situada na esquina norte-ocidental da Peninsula Ibérica, correspondendo nos dias que correm, à actual Galiza e norte de Portugal, e a sua cidade mais importante e capital histórica, era Bracara Augusta, a actual cidade dos arcebispos.
A Galécia, dividia-se administrativamente em três «conventus»: Conventus asturiense, Conventus Lucense e Conventus bracarense, este último, onde o «povo» de Gralhas se integrava. De 716, a 753, nada se sabe àcerca de Barroso e muito particularmente da Aldeia de Gralhas. O que reza a história, é que em 753, o rei Afonso I de Oviedo, genro de Pelágio, organiza uma grande expedição contra os Mouros e para além de outras cidades, toma-lhes Chaves e toda a região de Barroso.Após um cativeiro de 37 anos, os nossos antepassados do século VIII, respiravam de novo o ar da liberdade e dos seus hábitos, postos em causa pelos invasores muçulmanos.
No meio de todas estas lutas, é bem provável, que mais uma vez, os nossos conterrâneos, tenham sofrido devastações e assaltos da moirama, designadamente durante o estranho regime de correrias e incursões mútuas entre cristãos e árabes.
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra, Minha Gente)

- GRALHAS NA IDADE MÉDIA

Depois de tudo quanto ficou escrito, é pacífico, que a aldeia de Gralhas, dentro do actual contexto e com a ressalva do Bairro das Cruzes (ou de São Sebastião), que é contemporâneo, já existia, quando do reconhecimento do Reino, em 1143.
Sabe-se que administrativamente dependia do Alcaide de Montalegre, a quem pagava, tal como outras aldeias das redondezas, parte dos tributos da terra, que era pertença da corôa. Tais tributos, eram devidos, pelo facto, daquela que hoje é sede de concelho, ser ao tempo e no seguimento da organização administrativa, que vinha do Reino de Leão, aquilo a que se chamava «Cabeça da Terra de Barroso», onde funcionava e era organizada toda a administração civil, judicial e militar.
A partir de 1273, as regras tributárias dos habitantes de Barroso e por consequência dos de Gralhas, foram significativamente alteradas. Através de uma carta de foral, datada de 9 de Junho de 1273, atribuída a Montalegre, como «Cabeça das Terras de Barroso», mas cuja motivação principal, era a intensificação do povoamento e desenvolvimento agricola da região, o Rei D. Afonso III, concedeu às populações «todos os direitos e rendas reais, com excepção dos direitos de hoste, moeda e padroado das igrejas, que reservava para a corôa». Impunha ao Alcaide, «...o tributo anual de 3.500 morabitinos», que este deveria cobrar, junto das populações das diversas aldeias que tutelava e pagar à corôa, em três prestações: 1 de Outubro, 1 de Fevereiro e 1 de Junho. A falta de pontualidade deste pagamento, seria penalizada com uma «multa» de 10 morabitinos, por cada dia de atraso.

Com a dita carta de foral, foram ainda proíbidos todos os abusos que alguns fidalgos da «Cabeça», exerciam sobre os aldeões, designadamente, o uso da força que muitas vezes utilizavam para extorquir determinados bens de que necessitavam, bem como a sua aquisição sem a necessária contrapartida de pagamento. Só que tal «politica» não resultou!... A intensificação do povoamento e o desenvolvimento agrícola pretendidos, não tiveram sucesso; muita gente morreu, em consequência da fome e de uma grave epidemia que na época por ali passou; procurando fugir à doença e à fome, alguns povoadores saíram das suas terras e procuraram novas paragens, em busca de melhores meios de subsistência; outros ainda, fugiram às acções de violência e extorção de bens, de que eram vitimas, por parte de alguns fidalgos da «Cabeça»; a mão- de-obra era diminuta e o desenvolvimento agricola, regrediu de forma significativa.
Mais tarde, após tomar conhecimento de todos estes factos, o rei D. Dinis, encarregou então, o clérigo Pedro Anes, de proceder ao estudo da situação e encontrar as necessárias soluções, que permitissem inverter os dados referidos. Assim e à semelhança de outras aldeias das «Terras de Barroso», foi Gralhas contemplada, com uma Carta de Foral, datada de 20-09-1310, a qual era dirigida aos moradores que se haviam mantido na povoação. Na dita Carta, se estabelecia uma nova divisão dos terrenos, para serem entregues aos povoadores, cada um dos quais, ficaria obrigado a pagar 1 maravedi de foro. Se para a divisão efectuada, não houvesse os necessários povoadores, cada um poderia adquirir mais de um terreno, pagando 1 maravedi, por cada unidade a mais que possuísse.
O periodo mínimo de aforamento era de 3 anos e ao fim deste tempo, o foreiro poderia continuar na posse das terras, aliená-las, dá-las ou vendê-las, mas sempre com a condição, de que o novo possuidor, pagasse o respectivo «imposto». Nos casos de venda, alienação ou doação das terras, os agricultores, só seriam obrigados a entregá-las aos novos proprietários, depois de efectuadas as colheitas, pagando-lhes no entanto as rendas, que os «homens bons» da povoação, julgassem ser justas.
A partir daqui e tendo em conta o número de forais ou cartas reais de foro, referentes à região do Alto- Barroso, poder-se-à concluir, que como consequência das medidas levadas a cabo, pelo rei D. Dinis, ali tenha ocorrido um significativo desenvolvimento agricola. Os forais falam frequentemente em «casais» (bens), que se desdobram em dois, três ou mais, e terras incultas, transformadas em propriedades produtivas.
A multiplicação de terras cultivadas, aumentando a rentabilidade agricola para as populações foreiras, constituía assim, apreciável fonte de receita para os Alcaides, que na ausência de moeda, viam muitas vezes os seus tributos serem pagos em géneros. Gralhas não foi excepção à regra. No tempo em que reinou D. Dinis, existiam já, vinte e três das actuais trinta e cinco freguesias do concelho de Montalegre, entre as quais Gralhas.

No âmbito eclesiástico, como no administrativo, estava esta região perfeitamente organizada. Os rendimentos dos povoados no século XIV, comparados com o estado actual das paróquias de Barroso, leva-nos a concluir, que algumas das actuais freguesias, progrediram com o tempo, enquanto que relativamente a outras, se deu precisamente o inverso.
A título de exemplo veja-se o caso de Montalegre :Apesar de administrativa e militarmente ser «Cabeça da Terra de Barroso», no aspecto económico, era inferior a Mourilhe, Viade, Salto, Cervos e Mosteiro das Júnias, estando ao nível de Cabril, Cambeses e Ponteira. Neste âmbito, não se conhece qualquer referência à aldeia de Gralhas, sobre a qual aparecem novos dados, no reinado de D. João III, quando este monarca determina, através de carta datada de 17 de Julho de 1527 o recenseamento da freguesia.
Tal recenseamento viria a ser feito três anos mais tarde, isto é, no ano de 1530, após nova insistência do rei, tendo estado a cargo, dos juízes de Montalegre, Pero Gil e João do Rego, dos tabeliães Lisuarte Gonçalves e Pero Álvares, do Alcaide João Pequeno e de 2 «homens bons» da aldeia, não identificados, os quais, antes de empreenderem tão importante tarefa, juraram aos Santos Evangelhos, que seriam diligentes e verdadeiros no desempenho daquela missão.
O resultado do seu trabalho, cifrou-se no registo de 44 fogos. Após este, há apenas registo de novo censo na freguesia, já em pleno século XIX, mais concretamente no ano de 1836, constando do mesmo, o registo de 66 fogos, neles habitando 162 homens e 148 mulheres. GRALHAS, é hoje uma aldeia igual a tantas outras do interior. Embora com muito bons acessos, encontra-se marcada por uma forte depauperação económica e um quase abandono, das suas actividades tradicionais de outrora, designadamente no que diz respeito à agricultura e à criação de gado bovino, a que apenas vão resistindo alguns «teimosos» da terra. O aglomerado populacional está concentrado e organizado em diversos arruamentos. Caracteriza-a ainda, o imponente relevo que a envolve. A paisagem à sua volta, merece especial atenção, em particular os imponentes picos rochosos, como o Castelo do Romão, o Cabreiro, o Caldeirão, as Barreiras Brancas, o Corisco, e mais a sul a não menos importante Serra da Lagoa, hoje recheada de caminhos pedonais, que em conjunto formam autênticas barreiras naturais.
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra, Minha Gente)

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